segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O "depois" da infância: a jovem

Divago, de vagar e diferente-mente. Volto aqui depois de tanta ausência, 2019? 

Como se passam os anos? que tempo que correria que enfado que lugares me chamam de sítios tão recuados? Todos os dias me lembro deles: a avó, a mãe, o pai. Da avó os gestos do dia a dia, mexer a sopa, estender a roupa, o "não deixes para amanhã o que podes fazer hoje". A sabedoria, o afecto, o sorriso da bondade, o avental. Do casal que me formatou a vida - eu deixei? - o redemoinho das imagens, a minha mãe em aflição, mulher sempre em segundo plano, uma forma de "esconder" sentimentos que eu herdei, bem o sei e bem o sinto; dele, o gosto pela Natureza e... enfim, tenho de "compreender" porquê se fixava o meu pai na pequena-menina e na pequena-mulher ... a maldade, a severidade. Que são coisas diferentes, bem o sentia.

Escrevia há dias o que muitas vezes penso e digo: se recomeçasse a minha vida faria (quase) tudo diferente. Desde a "Ingénua", como alguém me desenhou e me chamava. Se procuro nomes ou lugares, o passado parece-me apenas um refluxo de maré vaza, lixo esquecido no areal. Coisas bonitas? sim, mas especialmente porque eu as fiz, as criei, as ia inventando. Os meus segredos.

Lembrança. Foi a propósito da menina-única ter ido agora ao Portugal dos Pequenitos, a Coimbra.

Uma vez, já no início da adolescência, não sei que anos teria: fui com o meu pai e amigos (o Neca...), acampar, à boleia, como sempre. Sei que passámos em Tentúgal e lembro-me do pastel folhado que comi. E, nessa área estando, fomos ver a obra de Bissaya Barreto, inaugurado em Junho 1940, o espaço "pedagógico e lúdico" para as criancinhas conhecerem o Mundo Português. Do Minho a Timor, como diziam nesses tempos obscuros e tal qual o mapa das escolas públicas. Das poucas fotos que tenho - que nos tiravam - estou a rir-me, a espreitar de uma janela típica da arquitectura portuguesa. Vi agora que o projecto foi levado a efeito pelo arquitecto Cassiano Branco.

Suponho que foi dessa vez que apanhámos boleia e andámos todos numa camioneta de caixa aberta. E eu tinha muita fome porque não havia lanches e paragens para meninas... Lembro-me (a tal ingenuidade) do meu pai me apontar os fios de electricidade e me dizer "Estás a ver o tacho a passar pelos fios?". Devia ter ficado confusa e calei-me, com esta tirada dele. Que as tinha, muitas.

Mas hoje não estou com vontade de continuar, breve virá o tempo de "Salgueiros" e uma vida completamente diferente.
 


1 comentário:

  1. Bem te entendo nas tuas reflexões. Também me pergunto "eu deixei?". Foi bom vir aqui.

    ResponderEliminar