Deixei os últimos anos para o fim das coisas e lembranças variadas.
Não tenho mais desenhos meus, eu que tanto gostava de desenhar e pintar; não tenho redacções que sempre eram lidas em voz alta nas aulas; não tenho ditados nos quais raramente dava erros; não tenho escritos que de muito nova escrevia: o meu pai uma vez rasgou tudo, furioso por eu escrever "verdades pouco confortáveis". Nem as mil e uma coisas de trabalhos manuais, colagens e invenções. Nem dos bordados que de começados nunca eram acabados...
A orientação religiosa, por mais que o Reinaldo a evitasse, era uma constante nas escolas. E eu escapei-me muitas vezes para as igrejas, para ver, para saber e para estar sossegada. Pelos 11/12 anos tive uma epifania, rodeada de "aura mística". De qualquer modo, sabia de novinha as orações todas, o catecismo era mais uma história para conhecer. Havia uma Biblía antiga em casa, o que eu gostava de ler o Antigo Testamento e aquelas descrições e nomes de encantar!
Outra das minhas fortes atracções, ainda hoje o é, foram as histórias da mitologia e tudo o que relacionasse com a Grécia ou o Egipto. O meu "Atlas", com constelações, países, e ilustrações de paisagens e aspectos do mundo, era incessantemente visto: ainda o tenho. Espantosas mudanças vejo hoje.
Estas eram as festas de Natal dos Correios, Telégrafos e Telefones, onde davam um modesto presente "para os filhos dos empregados". De algumas festas a que fui, tenho apenas estas fotografias, a cantar. Ah... como eu gostava de cantar! Uma era "Nazaré" - olha a Nazaré e o mar...- a outra era uma brasileira, um samba "Chegou a hora, chegou, chegou..."
No ensaio
E actuando, com um fato de vianesa ??? que se alugou para o efeito
Todo o grupo de crianças e ensaiadores em palco. A minha saia era de pregas, aos quadrados vermelhos e a camisola vermelha também.
***
Dividida por décadas, cada uma com fascículos muitos diferentes, assim foi e reconheço a minha vida.
Iríamos, pouco tempo depois, viver para Salgueiros, a algumas centenas de metros da praia.
Esse horizonte imenso - já não existe - de pinheirais, de marés, penedos e dunas, onde se desenrolou parte da minha conturbada e trabalhosa adolescência.
***
Não foi nessa época mas um pouco mais tarde. Contudo, veio-me à lembrança um livro em especial "Lâmpada que não se apaga, Mme Curie". Foi-me dado de presente pela minha professora de Português, no 2º? ano do liceu, a professora Arlete, que muito gostava de mim e das minhas redacções. Encontrei-a muito mais tarde, aqui perto e falámos: reconheceu-me!
Engraçado que te leio aqui e oiço com o tom e palavras que dirias nesses anos a que te referes. À semelhança dos bilhetinhos que escrevias para a tua mãe. Eu também os escrevia para a minha mãe e ainda tenho alguns guardados. A minha letra era semelhante à tua. Cada época tem a sua marca, até na letra.
ResponderEliminar