Da práctica efectiva, do senso comum, do que se chama agora, a "ecologia".
Escolhia-se um lugar, os parques de campismo eram escassos, ou a gente não podia ir muito longe, sem meios. Por vezes, eu ia de boleia, de carro com o Belo e a Alice, mais os dois filhos, o Jorginho e o Fafico.
(o Fafico: havia de o encontrar no prédio onde trabalhei - "Tu não és o Fafico? Sou. E tu não és a menina que dizia que se sentia amarela?" -, nas andanças partidárias e, muito mais tarde, apareceu como sogro do Luís, menino que foi contemporâneo do meu filho, e vizinho do 4º andar)
Para as tais incríveis coincidências da minha vida... às tantas tinha que fazer outro blog!
Cortavam-se fetos para o lugar em que a tenda assentava, numa clareira de árvores. Faziam-se duas covas (as barocas...) mais longe, uma como utilitária retrete, a outra para os desperdícios dos cozinhados. Nunca era permitido pisar o milho ou outra cultura que estivesse perto. Nunca se arrancavam árvores ou ramos. O respeito pela Natureza era uma constante.
Depois de desfazer o acampamento, espalhavam-se os fetos, tapavam-se as covas e tudo ficava quase sem vestígios da nossa presença.
Pela tarde adiante, todos os miúdos se ocupavam a apanhar pinhas e ramos secos do chão. Eram postos num monte, em lugar escolhido e longe do acampamento, para fazer o "fogo de campo" à noite. Uma tradição muito bonita e alegre, cantava-se, ria-se, faziam-se improvisos e momices.
Das canções que ainda recordo:
"Deitei um cravo ao poço, ó Chico
Céu fechado céu aberto
Dá cá toma lá
amor como o Chico não há, não há"
(o Fafico, malandreco, ria-se muito)
***
"Debaixo da ponte
está um tintureiro
tingindo baetas, linda Rosa
ganhando dinheiro"
***
"São horas de emalar as troixas
adeus ó tia Maria
à sombra dum arcipreste eu pedi-te um beijo
e tu não mo deste"
Mas se fosse lembrar todas as letras de canções que ainda recordo...
Esta fotografia diz-me que foi tirada em Santa Cruz do Bispo, parque de S. Brás. Uma escadaria imensa, o rio Leça lá abaixo, onde lavávamos a louça, esfregada com areia. Havia uma escultura disforme de um homem (mitologia romana? guerreiro lusitano?), o Homem da Maça. E muitas pedras em forma de laje.
Aqui certamente Cortegaça, basta olhar para a areia do chão. Um pinheiral onde descobriram uma bomba de água. Para atingir a praia, andava-se por entre árvores baixas e retorcidas, quase de gatas, chegávamos a uma duna enorme, do cimo da qual nos atirávamos, num delicioso escorrega.
Da estação de comboio até ao pinhal era um grande caminho a pé. Lembro-me das casas de pescadores, perto do mar: duma vez chegámos lá, um grupo de campistas, cheios de fome. Estavam a fritar peixe apanhado "na hora", numa máquina a petróleo no chão. Ali comemos, a cena ainda a vejo nos meus slides da memória.
E de novo a Quinta da Conceição, ainda existem os pórticos e o lago com chafariz
Acabam com sorrisos estes anos menores...
Uma das coisas boas que tiveste foi socializar com muita gente. Foi importante. Eu tive uma infância muito mais "reduzida" a respeito de convivências para lá do limitado e envelhecido núcleo familiar. Acho que fui demasiado protegida. Cada um com as suas marcas. No equilíbrio é que está o segredo mas como cada um educa conforme sabe (ou quer?), não temos outro remédio senão tentar remediar o que formos capazes de remediar. E além disso, há esta coisa complicada que é a relação entre a nossa maneira de ser e a dos outros. Por acaso um dia li que temos a ideia de atribuir as culpas aos nossos pais e à nossa família mas o problema está na criança que não foi capaz de se adaptar. Estranhei mas fiquei a pensar sobre esta opinião e cheguei à conclusão que se calhar a verdade (se a houver) está na relação entre os dois sujeitos da equação. Mas de uma coisa tenho a certeza: se tivesse tido agora os meus filhos, educava-os muito melhor. Não sou daquelas pessoas que dizem que voltariam a fazer tudo igual ao que tinham feito. Pois eu faria muita coisa diferente porque mais amadurecida e mais realista.
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